terça-feira, 13 de julho de 2010

Moedas desaparecem do mercado

Lucas Catta Prêta e Karine Figueiredo

Falta de moedas no mercado dificulta a relação de compra e venda; para comerciantes, está em jogo a credibilidade

                    Divulgação
Onde estão as moedas? Essa é pergunta que muita gente se faz, já que sua circulação no mercado da Grande BH é escassa, assim como em todo o Brasil. Essa situação dificulta o troco e faz o comerciante ficar sem credibilidade e o consumidor, insatisfeito. O fato causa transtornos principalmente em padarias, farmácias, bancas de revista e jornal, supermercados, postos de gasolina e nos coletivos. Especialmente as moedas de menores valores como R$ 0,01 e R$ 0,05 são as que mais faltam no mercado.

O principal motivo da falta de circulação de moedas é o que fato de que muitas pessoas as guardam em cofrinhos. “As pessoas, de modo geral, não deveriam guardar as moedas, e sim devolvê-las ao comércio. Mais da metade das moedas é esquecida ou guardada em cofres, nas gavetas, impossibilitando a circulação do volume total”, afirma o economista Wilson Benício Siqueira, do Conselho Regional de Economia (Corecon). O final e o início de ano são épocas em que as moedinhas fazem mais falta, devido ao aumento do movimento comercial. “O ideal seria que toda a população se conscientizasse da importância que as moedas possuem para o nosso dia-a-dia e modificassem seus hábitos de economia doméstica: ao invés de guardar moedas em cofrinhos, deveriam abrir uma poupança e depositá-las em um banco. Assim, elas retornariam rapidamente ao comércio local”, ressalta o economista.

Porém, neste caso, as opiniões são controversas, pois são muitas as pessoas que evitam ao máximo as moedas, como é o caso da estudante Luiza Amâncio Ferreira, de 21 anos, que não gosta de receber as pratinhas em nenhuma hipótese. ‘’Elas pesam no bolso e na bolsa, fazem volume e um barulho desagradável’’, diz a universitária. E ao perguntar o que ela faz com a maioria das moedas que recebe, a resposta é bem direta. “Junto todas e coloco em um cofre para depois trocá-las.” Quando as moedas são muito necessárias a alguma compra, a estudante Luiza Amâncio Ferreira já tem uma solução. “Separo o mínimo possível e já contado, como por exemplo, em pedágios. Só quando é extremamente necessário que as carrego, caso contrário pago com nota mesmo”, finaliza.

Balinhas como troco
Como a escassez de moedas se dá principalmente em relação ao troco, uma prática ilegal surgiu: as balinhas. Quando o estabelecimento não possui o dinheiro para devolver ao consumidor, ele ‘empurra’ balas e chicletes como troco. De acordo com o Procon, esse ato não é amparado legalmente e está estabelecido no Código de Defesa de Consumidor. As moedas de R$ 0,01 são as que menos aparecem no mercado, porém vários produtos são vendidos com preços como R$ 1,99 ou R$ 2,99, por exemplo. O fato é que os comerciantes não se preocupam em conceder o troço de R$ 0,01 para os clientes e poucos são os consumidores que cobram o valor.

O economista Wilson Benício Siqueira afirma que, com a falta de moedas, os comerciantes deveriam repensar a formação de preços, estabelecendo valores inteiros que facilitem os negócios. “Na verdade este tipo de preço é estabelecido com o intuito de elevar o valor da venda passando uma falsa imagem de que o preço está reduzido, situado em um patamar mais baixo, em razão do primeiro número antes da vírgula. No entanto, esta prática dificulta um negócio satisfatório para ambas as partes envolvidas, comprador e vendedor’’, ressalta.

APOLOGIA DA MOEDA
Hosanea Souza diz não abrir mão das pratinhas. Para ela, além da confessa afeição pelas moedas, há um motivo em especial: quem é comerciante como ela, não pode prescindir de tê-las sempre à mão. “Tenho uma padaria de bairro, e o movimento é alto praticamente o dia todo. Até pelo fato de ser um comércio local, que tem como clientes pessoas que saem de casa, ou que estão para o trabalho, para a escola, ou voltando de algum lugar, o meu fluxo de moedas é até considerável. Sempre tem muita criança, e até mesmo adultos, que sempre compram uma bala, um doce, um chocolate, e a maioria deles me paga com moedas, o que acho ótimo”.

A situação vivida por Hosanea foge da realidade de grande parte do Brasil. Segundo João Sidney de Figueiredo Filho, o chefe do Departamento do Meio Circulante (Mecir), órgão do Banco Central, quase metade das cerca de 15,6 bilhões de moedas presentes na economia estão guardadas nas gavetas ou nos conhecidos “porquinhos”. Ou seja, mais de R$ 1,7 bilhão em moedas não está em circulação na nossa economia, o que inegavelmente torna a tarefa de dar troco bastante complicada.

Para o administrador Márcio Catta Prêta, por mais difícil que seja para o comerciante, é tarefa dele arcar com o troco. “É bastante compreensível que muitos comerciantes não tenham moedas. Mas, pessoalmente, não aceito o fato de não me darem R$ 0,03 ou R$ 0,04 de troco. Para o comércio, essas pequenas quantidades acumuladas se tornam em vultuosas quantidades em dinheiro. Em situações do tipo, sempre falo: ‘Me dá R$ 0,05 que eu fico te devendo R$ 0,01.’ O consumidor é que deve se beneficiar nessas relações comerciais, e não o contrário.”

30 SÉCULOS DE MOEDA: PASSADO E PRESENTE

A moeda é uma das mais antigas criações do comércio. O primeiro relato de seu uso data do século XI a.C, pela dinastia chinesa Shang. Na história das moedas no mundo ocidental, o primeiro registro de fabricação é concedido aos gregos das ilhas de Aegina, por volta de 700 a.C Outros, porém, dizem que foi na antiga cidade grega de Éfeso, atual Turquia, em 650 a.C.

Confira, abaixo, algumas das principais moedas em uso no mundo hoje:

Estados Unidos da América A ainda mais poderosa e usada moeda do mundo, possui 6 valores: Cent (1¢); Nickel (5¢); Dime (10¢); Quarter dollar (25¢); Half dollar (50¢) e desde 2007, em edição especial, o Dollar ($1).

Zona do Euro Moeda usada por 16 países: 1c, 2c, 5c, 10c, 20c, 50c, €1, €2

Brasil: do real ao real
A primeira moeda oficial do Brasil também se chamava real.
O que pouca gente sabe é que o primeiro nome oficial para dinheiro utilizando o nome “real” foi impresso em 1654 pelos holandeses, quando de sua ocupação do Nordeste brasileiro.

Somente em 1790, já sob controle português, que o real se tornou a moeda oficial brasileira. Entretanto, já em 1750 as primeiras moedas de cobre já estavam em circulação, e carregavam os seguintes valores: 5, 10, 20 e 40 réis; moedas de prata de 75, 150, 300 e 600 réis; e moedas de ouro de 1000, 2000, 4000 e 6000 réis.

O sistema de cunhagem foi reformulado em 1778, quando foram introduzidas as primeiras moedas do real: 80, 160, 320 e 640.

De lá para cá, muitas transformações aconteceram, e o país passou por diversas moedas: Cruzeiro (1942 – 1967), Cruzeiro Novo (1967 – 1986), Cruzado (1986 – 1989), Cruzado Novo (1989-1990), Cruzeiro (1990 – 1993), Cruzeiro Real (1993 – 1994) e finalmente, a segunda versão do real, de 1994 até os dias atuais.

Desde 1998, uma nova versão das moedas está em introdução na economia, com a retirada gradual, desde novembro de 2005, das moedas de R$0,01.

Quantidade de moedas que circulam no Brasil
O número de moedas disponibilizado para o comércio é bastante considerável, porém grande parte delas está presa em cofrinhos.

Fonte:  Banco Central

Um comentário:

  1. Quem realmente esta tirando as moedas do mercado são os pedagios, que não depositam moedas, e so pagar em notas que eles serao obrigados a circularem as moedas.

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