segunda-feira, 4 de julho de 2011

Beleza a qualquer custo

Por Karine Figueiredo, Maria Luiza Mattar e Thaís Paiva

Mulheres fazem uso de vários recursos estéticos para atingir a tão desejada auto estima, muitas vezes, sem pensar nos prejuízos

Durante o século XIX, muitas mulheres já seguiam as tendências de beleza da Dona Domitila de Castro, a marquesa de Santos que enlouqueceu Dom Pedro I. Com um corpo coberto por uma extensa camada adiposa, a musa do imperador tinha uma beleza que todas as mulheres invejavam. Já na década de 1960, o ícone era Leila Diniz, uma modelo que foi inspiração para o sexo feminino, com o seu corpo marcado por músculos bem delineados. Ainda existem muitos outros exemplos de mulheres que foram símbolos de beleza.

Seja para ficar gordinha ou definida, as mulheres estão sempre buscando uma forma de se sentirem mais bonitas e atraentes. Atire a primeira maquiagem aquela que nunca fez uma loucura a favor da beleza. Preocupar-se com a beleza é uma forma de pensar na auto estima, afinal, as duas coisas estão relacionadas intimamente. Mas, é preciso estar atento para que essa preocupação não se transforme em algo prejudicial.

Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, a preocupação com a aparência só aumenta. Em 2004, foram realizadas 616 mil cirurgias plásticas no Brasil, entre estéticas e reparadoras. Já em 2009, o número aumentou para 645 mil. Nesta comparação, as cirurgias estéticas passaram de 59% para 69% no total. A cirurgia campeã entre as mulheres é a de silicone. De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, 91% puseram nas mamas e 5% nos glúteos.

Magreza, um belo rosto e regiões do corpo bem definidas. Essas são algumas características da mulher que possui o padrão de beleza adequado na atualidade. As mulheres do século XXI impõem esse padrão e não medem esforços para cumpri-lo, deixando até a saúde de lado.

Algumas cirurgias plásticas podem causar, além de cicatrizes profundas, problemas pulmonares e anemia. É o caso da lipospiração, uma cirurgia que hora e meia aparece nos jornais anunciando mais uma vítima fatal do procedimento. E não é preciso passar por cirurgia para correr este risco. Muitas mulheres optam por comer o mínimo possível, o que pode causar uma anorexia. Exemplos de celebridades que já passaram por uma situação como essa não faltam. A lista vai desde à família real, com a princesa Diana, até o mundo do esporte, como a surfista brasileira Andréa Lopes, que aos 20 anos chegou a pesar 38 Kg. Outra celebridade é a cantora Karen Carpenter, que morreu aos 32 anos, vítima de um ataque cardíaco decorrente da anorexia. E, em 2006, o caso da modelo Ana Carolina Reston Macan marcou o país. A jovem morreu com 21 anos por causa das complicações da doença que a perseguia.

O perfil de hoje é ser magra, viver de dieta, fazer exercícios regularmente, ter cabelos bem tratados, fazer cirurgias plásticas e sempre manter-se preocupada com a aparência. Cada cultura possui o seu padrão de beleza e, na maioria das vezes, as mulheres são as mais atentas a isso. Elas procuram seguir todos os conselhos para tornarem-se a modelo de beleza atual, sem medir esforços. Claro que a autoestima é bem valorizada com tantos cuidados, mas qual o limite dessa busca insaciável de estar sempre bela? Quais são os riscos? O que é considerado exagero?

O cirurgião plástico, Ronan Horta, explica que as mulheres escolhem as cirurgias, pensando como elas podem elevar a autoestima. “Os pacientes me procuram em busca de melhorar o que está incomodando, o que os deixam com vergonha. Não acredito que a cirurgia plástica seja uma vaidade ou um excesso, pois as pessoas querem se sentir mais bonitas e felizes. Essas são características que as plásticas proporcionam com certeza”.

Ao se sentir insatisfeita com a própria aparência e pelo fato de ser muito vaidosa, Míriam Nice já realizou três cirurgias. Em 1993, após o nascimento da última filha, a funcionária pública fez uma operação de sustentação das mamas. “Os meus seios estavam muito caídos, por isso eu estava muito insatisfeita”, confessa.

Em 2006, Míriam teve condições financeiras e decidiu colocar silicone, além de fazer uma cirurgia estética no nariz. Porém, neste momento, ela descobriu algo que a deixou bem abalada e que atrasou seus planos estéticos: estava com câncer. “Só fiz a cirurgia em 2010, quando estava totalmente recuperada da doença. A plástica me deixou com a autoestima elevada, o resultado foi satisfatório. Ao me olhar no espelho agora me sinto bem, feliz e realizada”, relata. Ela pretende ainda retocar a pálpebra e diminuir o abdômen. “Daqui a pouco faço 60 anos, se eu sentir necessidade farei outras plásticas”, revela.

Mas, algumas pessoas não são tão adeptas à cirurgia plástica e preferem buscar a beleza que desejam com procedimentos não cirúrgicos. A dermatologista Andréia Coutinho trabalha com tratamentos como aplicação de toxina botulínica, preenchimento e laser. Ela afirma que o botox é o mais procurado. A especialista ressalta que a procura cresceu bastante, principalmente com mulheres na faixa etária entre 25 e 45 anos. “Para se ter uma ideia, antes eu fazia dez aplicações de botox para um preenchimento. Hoje a cada preenchimento eu faço duas aplicações de botox”, afirma.

A dermatologista ainda explica que o botox é um tratamento que impede a contração muscular e não é viciante ao organismo, pelo contrário, quanto mais o paciente aplica, menos é necessário, pois a musculatura desacostuma a formar rugas.

A servidora pública Márcia Maria Galuppo é uma das tantas mulheres adeptas ao botox e aplica a toxina há três anos. A vaidade começou quando viu o resultado da aplicação em algumas amigas. “Muitas colocaram e eu gostei do resultado, as rugas de expressão somem”, afirma a servidora. Márcia aplica botox na parte superior do rosto e garante que a aparência melhorou muito, sem falar na autoestima. “Eu tenho 54 anos e com esta idade eu acho importante aplicar botox, pois me sinto mais jovem”. Além desta aplicação, a servidora faz peeling para escamar a pele e já experimentou preenchimento nos lábios.

A dermatologista Andréia Coutinho declara que a região do corpo em que as mulheres mais se interessam em fazer preenchimento é entre o nariz e o lábio, chamado de bigode chinês. “Mas elas fazem também muito na maçã do rosto e no lábio”.

Porém, é preciso ficar atento para que esses tratamentos não se tornem algo exagerado. A dermatologista explica que muitas mulheres vão ao consultório para fazer um procedimento que, às vezes, não é necessário. “Tem mulheres que já tem os lábios muito bonitos, mas mesmo assim pedem para fazer preenchimento, ou mulheres que aplicam botox, mas voltam logo em seguida para mais uma aplicação, para congelar de vez a expressão”, afirma. E acrescenta: “nessas horas o que nós médicos temos que fazer é aconselhar, afinal, tudo tem limite”.

A beleza não é uma preocupação exclusiva das mulheres mais velhas. Pelo contrário, as jovens estão buscando cada vez mais tornarem-se bonitas e felizes. Um exemplo disso é a estudante de 21 anos, Luciana Ximenes. Ela fez cinco cirurgias recentemente: mamoplastia (redução dos seios), cirurgia bariátrica (redução de estômago), abdominoplastia (retirada de excesso de pele e ruptura dos músculos do abdômen), lipoaspiração e prótese de silicone.


 
Luciana afirma que resolveu fazer as plásticas, não somente pela estética, mas também pela preocupação com a saúde. “O tamanho dos seios já me causavam dor nas costas’’. Ao fazer a redução de estômago ela sentiu que a autoestima melhorou muito. “Cheguei a pesar 110kg e fiz todos os tipos de dietas possível, mas não conseguia emagrecer. Com a cirurgia, consegui eliminar 52kg em nove meses. Com o peso estabilizado e dentro do que eu queria, resolvi fazer a abdominoplastia para retirar a pele e reparar a ruptura dos músculos do abdômen, causada pela grande perda de peso”. Devido aos seios diminuírem após a operação, Luciana resolveu colocar as próteses de silicone.

A jovem afirma que as cirurgias fizeram com que ela se tornasse muito mais feliz. “Hoje me olho no espelho e me sinto bem. Não tenho vergonha com antes. Eu era uma pessoa mal humorada e hoje mudei muito”. Mas, agora, ela ressalta que não pretende fazer outras plásticas.

A esteticista Maderlene Maria de Oliveira também já realizou várias cirugias. Ela já fez lipoescultura, redução dos seios, levantamento das pálpebras e plástica na barriga. “Acho que sou super vaidosa e, por isso, ainda faria muitas outras cirurgias. Tenho vontade de colocar silicone nos seios, fazer outra plástica na barriga e lipoescultura novamente’’.

Maderlene conta que fez as cirurgias, porque se sentia incomodada e queria ficar mais bonita. E foi pensando na beleza, que ela resolveu abrir uma clínica de estética. “A clientela aumenta, porque as pessoas me vêem sempre mais bonita e acham que é fruto do meu trabalho”.

Ela diz que começou a trabalhar com estética, porque foi incentivada. “As pessoas me aconselhavam a entrar na área da beleza, porque eu tinha um rosto bem feito, pele boa e cabelos bonitos. Estou há 18 anos na profissão e pretendo ficar por, pelo menos, mais 18”.

Crianças e a beleza

Atualmente, um dos focos principais dos salões de beleza são as crianças. As meninas estão cada vez mais preocupadas com a beleza.

De acordo com uma pesquisa realizada em 2008, por Maristela Harada, publicada na Revista Household e cosméticos, a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) constatou 3,5 mil produtos no mercado são direcionados as crianças. O público infantil corresponde a 50 milhões de consumidores infantis, o que representa 29,6% da população brasileira.

É fácil notar que os jovens estão cada vez mais vaidosos. Ao visitar um salão de beleza a chance de encontrar adolescentes no local é muito grande. Assim como a maioria, a “garotada’’ também busca incessantemente o que é considerado beleza pela mídia, que exibe padrões estéticos cada vez mais impossíveis de serem alcançados naturalmente. Isso leva a um apelo artificial, geralmente caro e, muitas vezes, prejudicial à saúde.

Nicole Barter, 4 anos, já é muito vaidosa. Ao perguntá-la por que ela gosta de cuidar da beleza, Nicole afirma com bastante convicção: “Para ficar bonita”. Os pais também são responsáveis pelos filhos se tornarem consumistas com produtos e/ou tratamentos de beleza, pois apóiam e pagam. A dona de casa Elaine Barter diz que a filha Nicole, uma vez por mês a pede para comprar produtos como esmalte, maquiagem, etc. “Vou em um salão pra buscar produtos específicos para os cachinhos dela, quando está acabando ela mesma fala para ir comprar mais”.

Os salões de beleza estão cada vez mais cheios de crianças. A esteticista Maderlene Maria de Oliveira afirma que 10% da clientela do salão dela são as crianças, a partir de sete anos, filhas das clientes. “Elas fazem as unhas toda semana e algumas já tiram sobrancelha. As garotas de 12 a 14 anos também buscam a depilação”.

Elaine acredita que sua filha despertou a vontade de se cuidar ao vê-la sempre bem arrumada. “Ela desde pequena frequenta salão comigo. Sempre me vê arrumada, me maquiando para sair. Estou sempre indo ao salão para depilar, arrumar o cabelo, fazer unhas, etc. Então sou referência para ela”, conta.


 
E não é só o salão que está sendo frequentado pela “garotada”. O cirurgião plástico Ronan Horta atende pacientes de diferenciados perfis e idades, até crianças, no caso de se sentirem insatisfeitas com a aparência. O médico explica que a cirurgia não é só uma questão de vaidade. “Uma criança, por exemplo, se tem orelha de abano ela vai pedir a mãe para operar e não ser motivo de brincadeiras na escola, podendo até chegar a sofrer bullying”.

Atualmente a beleza é uma das principais preocupações das pessoas. O que antes era considerado um gasto supérfluo, hoje é uma prioridade. O investimento com produtos e cirurgias ligados a estética está cada vez mais alto.

O grande vilão da beleza é o exagero. Muitas mulheres procuram a qualquer custo a fórmula da juventude e do corpo perfeito, mas algumas vezes a cobrança para alcançar o tal padrão ideal vai além da questão da vaidade. Por isso, o único motivo de estar sempre bonita deve ser a procura do bem estar.

O visual não é só uma questão de moda, mulher homem e criança devem-se cuidar para valorizar o ego e a beleza interior. A preocupação com a aparência deve existir, mas sem exageros.

Plataforma vibratória: o que é?

Reportagem publicada no Jornal Correio Trespontano no dia 18 de junho de 2011.