Entenda a definição sobre as lendas e porque elas fascinam tanto
Karine Figueiredo
Vampiro, lobisomem, bruxa, fada, duende, curupira, saci-pererê, caipora, fantasma e ET. Essas são algumas das inúmeras lendas que mexem com o imaginário de muitas pessoas. As lendas são narrativas fantasiosas transmitidas ao contar histórias que combinam fatos reais e históricos com fatos ilusórios. Elas mudam de tempos em tempos e se tornam, cada vez mais, misteriosas.
A professora de Letras da PUC Minas, Maura Eustáquia, tem uma explicação para a criação das lendas. ‘’Elas nasceram quando o Homem, diante de fenômenos naturais assustadores, criou para eles explicações plausíveis como forma de espantar o medo e tornar a vida mais confortável. ’’ Ela ainda afirma que elas são literatura, produção humana de beleza a explicar porque as coisas e o mundo são de tal maneira, sem nenhum compromisso além de produzir beleza.
Uma das lendas que mais faz sucesso atualmente são os livros da ‘’Sagra Crepúsculo’’, da autora Stephanie Mayer. A história mostra uma jovem humana que se apaixona por um vampiro e tem um amigo lobisomem. A escritora já lançou quatro obras, onde duas já foram reproduzidas no cinema. No fim do mês de novembro, ‘’Saga Crepúsculo – Lua Nova’’, o segundo livro da autora, estreou nas telonas e o resultado agradou quem se encanta com os livros.
A estudante Brenda Maia, de 16 anos, é um exemplo desse fascínio pelas lendas. ‘’A maneira como a autora escreve me faz acreditar que é possível, que esses ‘seres’ realmente existem. Eu acredito que a escritora conta a história de algo que aconteceu com ela.’’ A jovem ficou totalmente encantada com o último filme lançado e já o viu três vezes no cinema. ‘’Eu não conseguia parar de ler, e agora não consigo mais para de ver. Acredite, já fui ver o filme três vezes. É tudo tão real e surreal.’’, ressalta a garota.
No Brasil, as lendas mais conhecidas são as folclóricas e elas influenciam o imaginário do povo. ‘’ O nosso folclore está repleto de lendas indígenas – do Caipora, do Saci-Pererê, da Mãe d’água, do Caboclo d´água e tantas outras. Isso se reflete naturalmente no nosso talento para explicar tudo, mesmo o inexplicável’’, ressalta a professora de Letras, Maura Eustáquia.
A professora ainda fez um teste em casa com os filhos dela que rendeu um resultado muito interessante ao se fazer uma pergunta meio ‘’maluca’’ às crianças. ‘’Perguntei ao meu filho pequenino qual é motivo de cavalo não ter chifre. E ele, de primeira, respondeu ‘por que não é boi, uai’. E a minha filha falou que ‘papai do céu acha que cavalo fica mais bonito só com a sua crina ao vento’. Pura lenda!’’
A estudante de jornalismo, de 22 anos, Natália Becattini, desde criança foi encantada por histórias de fantasias como lendas, contos de fadas, literatura fantástica, filmes e desenhos animados. ‘’Acho que elas colocavam uma magia na minha vida que eu não encontrava na realidade e me levavam para um mundo, onde qualquer coisa poderia acontecer, mesmo que fosse assustador.’’ Agora, Natália explica como essas grandes histórias ainda mexem com a vida dela. ‘’Hoje leio muito sobre o assunto, acho as histórias muito bonitas que fazem parte do nosso imaginário. Depois de um tempo, você começa a perceber elementos que se repetem: o herói, a mocinha, a madrasta ou bruxa má. Acho isso tudo muito interessante.’’ Um assunto que é polêmico e causa muitas discussões é sobre acreditar ou não nessas lendas e a estudante, Natália, opina sobre esse tema tão controverso. ‘’Acho que ninguém pode dizer que ETs não existem. Seria muita presunção num universo deste tamanho. Bruxos existem, mas não são como os das histórias, são mais esses místicos e esotéricos. Agora em espíritos, eu acredito. ’’, conclui sorrindo.
Mas existem pessoas que exageram e misturam realidade e fantasia. A psicanalista e professora de Teoria Psicanalítica da UFMG, Ana Cecília Carvalho, faz uma análise sobre a crença em histórias imaginárias. ‘’Sempre existirão pessoas para as quais pode ser mais difícil distiguir entre o mundo real e o mundo da fantasia. Contudo, não podemos acusar a arte, a literatura, o teatro e o cinema de serem vilões ou causadores desses problemas, pois a função deles é justamente apagar o limite entre o que é real e o que é irreal. ‘’
Uma outra história lendária que fez e ainda faz muito sucesso, principalmente entre os adolescentes, é o Harry Potter. A autora J. K. Rowling conta uma série de aventuras fantásticas em que o protagonista é um bruxo e convive com outros seres da mesma espécie, alguns sendo bons, como ele, e outros vilões. A escritora já lançou sete livros, no quais seis já foram apresentados no cinema.
Mas por que esses tipos de lendas como Crepúsculo e Harry Potter, quando mostrados no cinema e em livros, fazem tanto sucesso? ‘’Para a psicanálise, as lendas, assim como os mitos, são construídos a partir dos nossos desejos inconscientes. Tal como as nossas fantasias, sonhos e devaneios, as lendas também servem para realizar imaginariamente o que não conseguimos realizar na realidade’’, responde a psicanalista Ana Cecília Carvalho.
A psicanalista ainda afirma que quem se identifica com essas lendas sente prazer porque se relaciona com o que os personagens vivem. Além disso, quem é apaixonado por essas histórias, entende que no mundo real, nenhum dos perigos que os personagens correm vai acontecer na realidade.
As lendas já fazem parte da cultura de um povo e mexem com o imaginário das pessoas que acreditam nessas histórias por várias gerações. ‘’Lendas fazem parte de qualquer sociedade, acho que elas surgiram com a linguagem e com a capacidade de narrar. Não consigo pensar em uma sociedade sem lendas e contos’’, acredita a estudante de jornalismo, Natália Becattini.
